terça-feira, 19 de julho de 2011

Pedido de desculpas e comentário sobre o fim da greve

A todos os companheiros de luta, pais e alunos que acessam este espaço de comunicação, peço desculpas pela demora em atualizar as últimas notícias, mas infelizmente problemas técnicos com o servidor do blogger.com me impediram de fazer as atualizações necessárias. Felizmente,  neste meio tempo, dispusemos de outros veículos de comunicação, como o blog do Moacir Pereira, o site do SINTE e o belíssimo blog educacaoemgreve.wordpress.com, que vem nos mantendo atualizados sobre as movimentações da greve e de onde muitas vezes retiro as informações postadas neste espaço.
Por fim, peço licença para expor meus sentimentos sobre os últimos acontecimentos da greve do magistério de Santa Catarina.

O dia 13 de junho, o fatídico dia em que os deputados corruptos de Santa Catarina assassinaram a Educação no Estado aprovando a PLC 026/2011 foi um dia doloroso para todos na educação, inclusive para esta moderadora.
Eu não estava na Assembléia naquele dia. Estava correndo atrás de orçamentos e documentos para solicitar apoio financeiro via ACP (Associação Catarinense de Professores) para publicações de esclarecimento sobre a greve e a PLC na mídia televisiva e impressa, na esperança de tentar revitalizar o movimento. Não, eu não estava na ALESC naquele dia.
Mas em meio ao corre-corre para tentar levantar verba, acompanhei pelas inserções da RBS sobre  o que estava havendo durante a tarde. E finalmente, no jornal da RBS das 19h, recebi a notícia de que a PLC havia sido aprovada. Vi, estarrecida, meus colegas professores gritando, chorando, exigindo e implorando por justiça e honestidade por parte daqueles que elegemos como nossos representantes, aqueles que "deveriam" ser nossos empregados (servidores públicos?). Vi meus colegas professores sendo humilhados, espancados e contidos pela força policial, tanto do BOPE quanto da PM da ALESC (que, diga-se de passagem, também tem seus salários roubados pelos mesmos homens que estavam tentando defender - irônico, não?). Assisti, em choque, o sofrimento dos meus colegas (que era meu sofrimento também), então me sentei e chorei. Chorei por muito tempo, chorei por horas, chorei por dias... 
Chorei por culpa, por não estar lá, naquele momento, lutando com eles. Por não estar presente para dividir o fardo.
Chorei por raiva, pela sensação de impotência diante de 28 ladrões (SIM! LADRÕES! BANDIDOS! CRIMINOSOS!) que assinam um maldito pedaço de papel e assim destroem as vidas de mais de 65 mil pessoas, sem o menor peso na consciência (ah, esqueci, eles não tem consciência).
E chorei de vergonha. Naquele momento, senti muita vergonha de ser brasileira, de ser catarinense. De pertencer a um país e principalmente, a um Estado que trata uma das classes trabalhadoras mais importantes para seu desenvolvimento como se fosse lixo. Que trata suas crianças e adolescentes (alunos) como se fossem lixo. Que trata sua sociedade como palhaços escravos de sua ganância, como se existissem para o seu divertimento.
Nos dias que se seguiram, participei das reuniões do comando de greve de São José e Florianópolis, como uma das representantes da nossa escola, participei das assembléias e das deliberações, mas confesso que, apesar de continuar lutando, sinto-me mutilada nos ideais e no espírito, e que essas marcas jamais desaparecerão.
Ontem, dia 18 de julho de 2011, na Assembléia Estadual dos Professores, ficou decidido que a greve seria suspensa, mas que permaneceríamos em estado de greve, podendo retomar o movimento a qualquer momento.
Hoje, dia 19 de julho de 2011, terça-feira, dia frio, chuvoso (como deve ser quando se está de luto), devo retomar minhas atividades escolares, junto com meus colegas e meus alunos.
Tenho saudades dos meus alunos, mas admito que me faltam tanto a vontade quanto motivos  corretos para voltar. Logo eu, que amo tanto ensinar, que sempre disse que se pudesse, lecionaria de graça (infelizmente não posso), não tenho a menor vontade de me preparar, sair de casa e caminhar em direção à minha escola. Alguma coisa se quebrou dentro de mim, alguma coisa que não poderá mais ser consertada.
Logo após a votação da PLC, ouvi de muitos (MUITOS) colegas de luta que a greve foi vitoriosa, que não obtivemos ganhos financeiros, mas ganhamos união, ganhamos conhecimento sobre as leis, sobre nossos direitos, etc, etc, etc. Sei que muitos irão criticar minhas palavras, mas para mim, isso é estado de negação, é uma atitude "Poliana" de quem não quer encarar a verdade, não quer encarar a derrota. Por que é essa a triste verdade: Fomos derrotados!
Fomos derrotados não por que não tivemos força ou fibra moral, mas por que fomos ingênuos. Temos ética, temos honestidade, temos moral, e por isso acreditamos que todos tem (lemos o mundo através do nosso olhar). E por sermos éticos, honestos e morais, fomos enganados, fomos vendidos, fomos traídos.
Os três beijos dados por Alvete Bedin no deputado Ponticelli (relator da PLC) após a votação que nos destruiu, lembrou-me dos três beijos que Judas deu em Cristo após vendê-lo por 30 moedas aos romanos. Fomos derrotados porque a traição veio de nossa principal representante: a própria presidente do SINTE.
Não, não culpo todo o corpo do SINTE pelo que houve. Há companheiros valorosos no sindicato, que se sentiram tão envergonhados e traídos quanto eu, que ficaram tão enraivecidos quanto eu, e que neste exato momento, estão trabalhando arduamente para limpar o nosso sindicato desta podridão que se alastra.
Desmascaramos o governo, expusemos o escândalo do FUNDEB, desmascaramos a presidente do sindicato, separamos os companheiros de valor dos sabotadores chupins do governo. Ótimo. Mas isso não diminui minha tristeza (que é imensa), não diminui minha decepção, nem minha sensação de derrota e de impotência.
Também ouvi muitos dizerem: Ah, já sabíamos que seria assim, política é suja, o governo é corrupto, nem valia a pena lutar...
Ora! As coisas são assim justamente porque aceitamos, porque nos acomodamos, porque aprendemos a "gostar" de ser roubados! Somos criados na cultura da "ovelha", da "vaca-de-presépio", do "gado a caminho do abate". Por isso fomos derrotados. Por isso nossos direitos são arrancados de nós à pontapés. Porque não dizemos nada.
Volto hoje para a escola, com a plena consciência de que, nesse momento da nossa história, nossos direitos de cidadãos existem somente no papel, de que a Constituição do Estado e a Constituição Federal são apenas isso: pedaços de papel.
Mas volto com uma pequena, realmente minúscula fagulha de esperança de que isso um dia seja diferente. De que tenhamos aprendido a fazer diferente. Posso estar equivocada, posso estar sendo até radical, mas não conheço da História nenhuma revolução pacífica que tenha causado efeito. Não me compreendam mal, não sou a favor da guerra, nem tampouco da violência. Mas temos de ser realistas e admitir que nossa manifestação pacífica e organizada não surtiu o efeito desejado. Temos que reavaliar nossos objetivos e basear nossas ações nos efeitos que buscamos alcançar, e da próxima vez, fazer acontecer.
Concordo imensamente com a frase de Ana Abrantes que diz: "LOUCURA É FAZER SEMPRE AS MESMAS COISAS E QUERER RESULTADOS DIFERENTES".
Espero que deste dia em diante nós possamos fazer realmente alguma coisa diferente.




Lisiane Freitas
Professora em luto.




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